Foto de Ryan Conrow.

O design de uma cidade aproxima-nos ou afasta-nos das outras pessoas. Por exemplo, a ingenuidade pode levar-nos a pensar que um banco circular ou separado por um apoio de braços responde a uma necessidade cidadã. No entanto, a maioria deles foi criada para evitar que pessoas sem-abrigo pernoitassem neles. O design cumpriu o objetivo, mas ignorou-se que um banco deve tecer conversas e despertar curiosidade pelo outro. Um banco é um grande abrigo de histórias.

Projetos como o Friendship Bench do Zimbabué, que souberam dar um sentido comunitário e até de cuidado pelos outros, lembram-nos que o design urbano só faz sentido se nele estiver presente o outro. Para isso, é imprescindível a perspetiva da Educação Relacional. Educação entendida tanto como a aprendizagem que nos acompanha ao longo da vida, como o processo que a facilita. E Relação, na medida em que, para habitar um espaço, é necessário humanizá-lo.

Uma cidade relacional constrói-se a partir do vínculo e do reconhecimento que torna visíveis aqueles que nos rodeiam. A Educação Relacional convida-nos a reativar a nossa forma de ver e observar os espaços em que vivemos. Todos eles, sem exceção, conformam o sistema de redes que nos sustenta.

As escolas, as salas de aula, têm espaços seguros e tranquilos que promovam o diálogo com os outros? Existem espaços de trabalho que invisibilizam determinadas pessoas? Os parques infantis respondem às necessidades das crianças ou às dos adultos? Os ambientes pelos quais passamos diariamente facilitam-nos a relação ou promovem a individualização?

A Carta das Cidades Educadoras da AICE, revista em 2020, defende o direito a uma cidade inclusiva, diversa, aberta ao diálogo intergeracional, “que tem como finalidade a construção de comunidade e de uma cidadania livre, responsável e solidária, capaz de conviver na diferença, de solucionar pacificamente os seus conflitos e de trabalhar pelo ‘bem comum’”. Está claro que as Cidades Educadoras só têm um caminho: a relação.

O espaço não é neutro, nem o nosso olhar. É necessário gerar conhecimento e ações que nos permitam criar cidades não apenas para viver, mas que possam ser vividas.

Por SILVIA PENON e MORA DEL FRESNO, responsáveis pela Unidade de Educação Relacional

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